Você notou que as suas roupas ficaram apertadas depois de iniciar a primeira cartela de pílula? Sua irmã, prima, colega de trabalho ou amiga da amiga algum dia comentou sobre esse efeito indesejável ou outro, como aumento de apetite? A probabilidade de ter ouvido queixas - ou as sentido na própria pele - sobre o método, tão popular quanto controverso, é bastante alta. Mas, como os dois lados de uma moeda, a verdade em relação ao anticoncepcional é relativa. Pílula engorda? Sim e não, muito pelo contrário. Não, não é loucura.
Depende de inúmeros fatores, alguns relativos às formulações, outros ao organismo, à forma de ministrar o comprimido pelo médico e, até mesmo, o modo como ele é tomado.
"Em medicina, um mais um não é igual a dois. Isso quer dizer que um tipo pode ser perfeito para uma paciente e péssimo para outra".
Avanços reais
Desde que foi descoberta, nos anos 60, a pílula evoluiu muito, para alívio de todas nós. Das superdoses de hormônios, que produziam uma grande lista de efeitos colaterais - sem falar nos riscos de complicações circulatórias e doenças cardiovasculares - até a nova geração de pílulas, que reduziu a quantidade dos hormônios para 10%, o dia-a-dia das usuárias do método melhorou muitíssimo. "Com a microdosagem da nova geração de contraceptivos, efeitos como edema, náusea e dor de cabeça diminuíram muito".
"Substâncias sintéticas, como a ciprosterona e a drospirenona (semelhante à progesterona produzida pelo organismo da mulher), presentes nas fórmulas de uma nova geração de anticoncepcionais aliviam os sintomas da TPM, regulam a oleosidade da pele, melhoram a textura e o brilho dos cabelos", acrescenta. Já o desogestrel, progestogênio, garante ação contraceptiva, ainda que seja tomada com até 12 horas de atraso, contra as três horas garantidas pelas fórmulas convencionais.
A drospirenona também tem leve efeito diurético; assim, ajuda na eliminação do sal e provoca menos retenção de líquidos. Vale dizer que, do ponto de vista da contracepção, essas verdadeiras pílulas da beleza equivalem às outras disponíveis.
O complô do sobrepeso
Mesmo com as conquistas alcançadas nos tubos de ensaio, os anticoncepcionais não atingiram a perfeição. As reações adversas do consumo de todas as marcas são semelhantes e incluem, em diferentes graus, dor de cabeça, dores nos seios, enjôo e dor abdominal. Além disso, a maioria das pílulas causa alguma retenção de líquido. "Ainda há dificuldade de controlar certas reações", . Mas o fato de você engordar tomando pílula se deve a um conjunto de fatores. Um deles é o aumento de apetite, comum na segunda metade da cartela. "O ciclo do anticoncepcional é dividido em duas etapas: do 1º ao 15º dia é a fase estrogênica; e do 16º em diante, a fase progesterônica, cujos hormônios se assemelham aos da gravidez. Daí a vontade acentuada de comer doce, como acontece com as gestantes", descreve a ginecologista.
Também é na segunda metade da cartela que ocorre a retenção hídrica. "A situação é agravada para mulheres que têm a resistência à insulina aumentada, pois atingem facilmente o pico da glicemia e, quando a taxa cai, vem a necessidade de comer doce. Algumas pacientes engordam de 1 kg a 1,5 kg. Depois da menstruação, e ao retomar a pílula, esse processo tende a melhorar.
Conforme a formulação, os sintomas indesejáveis podem diminuir. "Hoje as pílulas com menor dosagem hormonal são as mais usadas, por minimizarem efeitos colaterais. A palavra final, de qualquer forma, deve ser a do médico.
Escolha consciente
A máxima "cada caso é um caso" aqui cabe muito bem. Exemplo? Se você tem propensão à enxaqueca, não deve tomar drospirenona - a substância tende a causar dores de cabeça.
É possível que mulheres com histórico de hipertensão e diabetes, problemas circulatórios ou cardiopatias tenham o desenvolvimento de doenças acelerado com o uso de pílula. E há certos tipos que podem aumentar feridas preexistentes no colo do útero. O melhor a fazer, portanto, é conversar com o ginecologista. Ele analisá o seu perfil, considerando idade, hábitos de vida, hereditariedade e solicitará exames, como Papanicola u e dosagem hormonal. Eles servirão para detectar possíveis defeitos de coagulação e prevenir complicações, como tromboses e embolias. Ao final, a chance de conviver em paz com a cartela (e com a balança) aumentará.
Relógio hormonal
Todos nós, mulheres e homens, temos implantado no nosso corpo uma espécie de relógio natural, conhecido como ritmo circadiano. Ele é regido pelo hipotálamo, que controla algumas das atividades mais importantes do organismo, entre elas o sono, a temperatura corporal e a função celular. No nosso caso, o relógio que define a produção de hormônios, ou o ritmo circadiano hormonal, tem funcionamento vespertino, entre 5 h e 7 h da noite (período de mais produção hormonal).
Partindo do princípio que o anticoncepcional oral copia o modelo de funcionamento dos ovários, a forma de ingerir a pílula deve respeitar esse conjunto harmonioso de reações. Ou seja, se você tomála ainda na parte da manhã, por exemplo, está invertendo o ritmo, o que certamente contribui negativamente para o bem-estar geral do seu organismo.